Um dos pedaços literários mais formidáveis que li. História curta e simples de um funcionário público angustiado. E das suas doenças.
Viajamos até à Rússia dos Czares. Ivan leva uma vida razoável. É casado, embora não dê muito de si à mulher. Numa altura em que comemora a sua ascensão social, começam, verdadeiramente, os seus problemas de saúde.
Obsessivo com as suas doenças, tenta de tudo para travar o inevitável. Sofre pensamentos muito desgastantes, vive com o stress à flor da pele. E é incapaz de compreender que nada disso ajuda. Apenas acentua, cada vez mais, a inevitabilidade do seu destino.
Este é um livro introspectivo, das profundezas do pensamento humano. Através de Ivan Ilitch, Tolstoi questiona as limitações da nossa condição. A morte é retratada com todas as emoções que a atormentam. Viajamos às decisões do passado de Ivan, das suas tristezas, da vida que levou.
Em poucas páginas damos por nós a pensar naquilo que fazemos. Destas duas realidades - vida e morte.
... "O casamento... tão acidental, e o desencanto, e o cheiro da boca da mulher, e a sensualidade, e a hipocrisia! Aquele emprego obscuro, aquelas preocupações com o dinheiro, e assim um ano, dois anos, dez, e vinte - e sempre a mesma coisa. Era como se descesse uma montanha imaginando que a subia. "E foi realmente assim. Na opinião pública eu subia a montanha, e a vida fugia debaixo de mim na mesma proporção...
ResponderEliminarE agora está tudo pronto, morre!"
Mas o que vem a ser isto? Porquê? Não pode ser. Não é possível que a vida seja assim tão sem sentido, tão abjecta. E se ela fosse assim tão abjecta e sem sentido, para quê então morrer, e morrer sofrendo?
Qualquer coisa está mal.
"Talvez eu não tenha vivido como devia?", ocorreu-lhe de súbito. "Mas como, se fiz tudo como deve ser?""
In A morte de Ivan Ilitch de Lev Tolstoi