quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sento-me a contemplar


'Sento-me a contemplar todas as dores do mundo, toda a opressão e vergonha,
Ouço os secretos soluços convulsivos dos jovens angustiados consigo mesmos, cheios de remorsos após o que fizeram,
Vejo no meio da miséria a mãe ser maltratada pelos filhos, morrer desprezada, magra e desesperada,
Vejo a mulher maltratada pelo marido, vejo o traiçoeiro sedutor das jovens,
Reparo nos ciúmes inflamados e no amor não retribuído e que se tenta esconder, vejo estes espectáculos na terra,
Vejo as agitações do combate, a pestilência, a tirania, vejo mártires e prisioneiros,
Observo a fome no mar, observo os marinheiros tirando à sorte aquele que vai ser morto para salvar as vidas dos outros,
Observo o desrespeito e os aviltamentos lançados por gente arrogante sobre os trabalhadores, os pobres, os negros e seus semelhantes;
Tudo isto - toda a mediocridade e agonia sem fim eu contemplo sentado,
Vejo, oiço e fico em silêncio.'

Folhas de Erva, tradução de Maria de Lourdes Guimarães.
Volume I, pág 469/471. Relógio D'Água

Sem comentários:

Enviar um comentário