terça-feira, 26 de outubro de 2010

Contagem decrescente para Marina...

Falta pouco para lermos as palavras do Diogo Martins acerca do livro deste mês, Marina. A ansiedade que levo até esse dia está moderadamente controlada, mas não inquieta a minha curiosidade e necessidade de debater este livro.

Hoje transcrevo na íntegra o prefácio escrito pela mão de Zafón. Ainda vão a tempo de discutir connosco mais um livro do clube. O repto fica lançado. Por volta de 5 de Novembro, o veredicto final!

Boa leitura


Amigo leitor

'Sempre acreditei que todo o escritor admita-o ou não, tem entre os seus livros alguns como favoritos. Essa predilecção é raro ter a ver com o valor literário intrínseco da obra ou com o acolhimento que ao aparecer lhe dispensarem os leitores ou com a fortuna ou penúria que lhe tenha proporcionado a sua publicação. Por qualquer estranha razão, sentimo-nos mais próximos de algumas das nossas criaturas sem sabermos explicar muito bem o porquê. De todos os livros que publiquei desde que comecei neste estranho ofício de romancista, lá por 1992, Marina é um dos meus favoritos.


Escrevi o romance em Los Angeles, entre 1996 e 1997. Tinha nessa altura quase trinta e três anos e começava a suspeitar que aquilo que um abençoado qualquer chamou a primeira juventude me estava a escapar à velocidade de cruzeiro. Publicara anteriormente três romances para jovens e pouco depois de embarcar na composição de Marina tive a certeza de que esta seria a última do género que escreveria. À medida que avançava na escrita, tudo naquela história começou a ter sabor a despedida e, quando a terminei, tive a impressão de que qualquer coisa dentro de mim, qualquer coisa que ainda hoje não sei muito bem o que era, mas de que sinto falta dia a dia, ficou ali para sempre.

Marina é possivelmente o mais indefinível e difícil de catalogar de todos os romances que escrevi, e talvez o mais pessoal. Ironicamente, a sua publicação foi a que mais dissabores me provocou. O romance sobreviveu a dez anos de edições péssimas e com frequência fraudulentas, que em algumas ocasiões, sem que eu pudesse fazer grande coisa para o evitar, confundiram muitos leitores ao apresentar o romance como o que não era. E, mesmo assim, leitores de todas as idades e condições sociais continuam a descobrir algo nas suas páginas e a aceder a essa água-furtada da alma de que nos fala o seu narrador, Óscar.


Marina regressa por fim a casa, e o relato que Óscar terminou por ela podem descobri-lo agora os leitores, pela primeira vez, nas condições que o seu autor sempre desejou. Talvez agora, com a sua ajuda, eu seja capaz de entender por que razão este romance continua a estar tão presente na minha memória como no dia em que o acabei de escrever, e saiba recordar, como diria Marina, o que nunca sucedeu.'

Barcelona, Junho de 2008
C.R.Z.

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