quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Verso e Prosa, Mário de Sá-Carneiro

Quando li 'loucura' de Mário de Sá-Carneiro, confirmei a grandeza e profundidade dos autores portugueses. Quis tele-transportar-me para outra época e ter visto aqueles poetas e prosadores. Imaginar longas tertúlias em roda de livros e temas da época. Sem computadores, modernices do nosso tempo. Apenas a caneta e papel.


Hoje vejo, com grande alegria, a reunião dos principais escritos de Mário de Sá-Carneiro. Pego num poema muito pequeno, mas que pauta o meu pensamento constantemente. Já o li e voltei a ler. Já o ouvi na voz de uma brasileira, de nome Calcanhoto. A prova dada como um pequeno verso, de enorme carga simbólica, pode dar uma música. Uma união entre dois povos, universais nesta Portugalidade!

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Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

5 comentários:

  1. "Loucura" é um livro que provoca uma imensa vontade de ler. Para mim é um fenómeno. Li-o de uma vez e em seguida recomendei-o à minha irmã e prima de 16 anos, que não estão habituadas a ler muito, elas leram-no no mesmo dia e recomendaram a colegas que recomendaram a colegas e eu recomendei a outros colegas...de repente notei que estou rodeada de gente que adorou esse livro que se propagou como febre, em todas as idades e em pessoas que lêem muito e que lêem pouco... fico muito contente de ter divulgado tal maravilha e tenho pena que seja um livro relativamente pouco conhecido.

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  2. É verdade aquilo que dizes. É curioso, li-o há alguns anos e encontrei-o numa estante, edição antiga. A capa nada tinha a ver com o conteúdo e a figura de Mário de Sá-Carneiro assustava-me. Mas li e reli o livro. Daquele pedaço, tirei uma das observações que mais cito e que já deixei neste blogue. Logo ao início, um trecho onde o autor define 'loucura'... Maravilhoso!

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  3. Não se se é no inicio. Gosto quando ele diz que a loucura é uma questão de maioria :)

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  4. "Loucura?? Mas afinal o que vem a ser a loucura? Um enigma... Por isso mesmo é que às pessoas enigmáticas, incompreensíveis, se dá o nome de loucos... Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. A maior parte dos Homens adoptou um sistema de convenções: É a gente do juízo... Pelo contrário, um número reduzido de indivíduos vê os objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria... são doidos... Se um dia porém a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse superior e o género de loucura fosse idêntico, eles é que passariam a ser os ajuizados: na terra dos cegos, quem tem olho é rei. Na terra dos doidos, quem tem juízo, é doido, concluo eu..."

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  5. Na veradde, quando se é "diferente" é-se estigmatizado e rotulado de anormal/louco e outros vocábulos similares. Mário de Sá Carneiro passou para a sua escrita todas essas inquietações e o amor absoluto que ele tinha pela vida. Ando à procura da correspondência que trocou com os seus pares contemporâneos, nomeadamente Fernando Pessoa e José Almada Negreiros.

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