quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Opinião: "A Mecânica do Coração" de Mathias Malzieu

Quando peguei n' "A Mecânica do Coração" fiquei imediatamente curioso e ansioso por ler a sua história. A capa era atractiva (embora a segunda capa seja bem mais bonita) e a sinopse revelava um grande potencial, especialmente por se tratar de uma espécie de conto de fadas para adultos.

Resumindo um pouco a sua história, conhecemos a vida do escocês Jack que nasce no dia mais frio do ano. O seu coração congela e a Drª Madeleine, uma espécie de feiticeira, substitui-o por um relógio de madeira. Mas para sobreviver, Jack não pode sofrer emoções fortes como a cólera e o amor. Uma dia, uma cantora da Andaluzia vai colocar o seu coração em perigo, pois ele vai apaixonar-se por ela e iniciar uma jornada em busca do amor.

As minhas já altas expectativas com este livro foram superadas. Mathias Malzieu, um famoso músico francês, é um verdadeiro mágico das palavras e consegue tornar uma pequena prosa numa digressão poética pelos sentimentos e vivências do protagonista. As descrições, metáforas e comparações conseguem ir do dramático ao divertido sem complicações. É impossível ler a história do pequeno Jack sem ficar enternecido ou com um sorriso no rosto. A história é de uma inocência e emoção tais que é impossível não ficar rendido a este novo paradigma de conto de fadas, com personagens tão peculiares ou tão conhecidas como "Jack, o Estripador"

Tive imensa pena de o livro ser tão pequeno (140 páginas), pois gostava que a minha relação com a história durasse mais tempo. Podia ter havido um maior desenvolvimento das personagens e da acção, sendo que isso não retiraria qualidade ao livro. Outro aspecto que pode fazer confusão ao leitor é a inclusão de certas metáforas referentes à modernidade. A história passa-se em finais do século XIX e é escrita na 1ª pessoa. Por isso, é estranho quando Jack refere Charles Bronson ou helicópteros. Além disso, depois de uma história repleta de emoções fortes e "cruas", esperava um final mais surpreendente, mais forte. Algo que me fizesse fechar o livro com um sorriso nos lábios ou uma lágrima no canto do olho.

Genuíno, negro e terno, é uma obra que revela o potencial de um novo contador de histórias na literatura mundial. Uma pequena grande surpresa que entrou para a minha lista de livros favoritos.

3 comentários:

  1. Quando lemos livros aconselhados por outros, vamos já com alguma espectativa. Neste, tinham-me dito que era tipo conto de Tim Burton. Pronto, pensei... qualquer coisa surreal. Não me enganei muito.
    Gostei do livro mas não é uma obra que tenha tocado o meu coração. É como quem ouve um conto e que já sabe que tudo pode acontecer.
    Também não gostei das analogias ao Charles Bronson ou à volta a França em bicicleta e aos helicopteros quando supostamente a personagem nasce em 1874 e toda a história se desenrola nos anos seguintes. Falta de rigor? Liberdade literária? Não sei. Só digo que estraga um bocadinho o ambiente negro e gótico que o autor pretende criar.
    Fora isso a história está bem escrita e as personagens são deliciosas. Ainda me conseguio arrancar algumas gargalhadas, especialmente pelo nome do hamster.
    Também para mim o final ficou áquem das espectativas. Depois de um amor tão grande não era aquele o final que eu teria escolhido para as personagens principais. Não teriam que ficar juntos, mas haveriam, na minha opinião, melhores opções.
    E assim dou 3 estrelas a este livro. Está engraçado. Não está fantástico. Mas foi uma boa leitura e recomendo a todos que leiam este livro, nem que seja pelas personagens e pelos lugares que, esses sim, são fantásticos!!

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  2. Li esta pequena pérola no início do ano e adorei!
    Deixo aqui o comentário que na altura fiz no meu blogue ...viajar pela leitura...

    A mecânica do coração fala-nos, no fundo, do funcionamento do coração de todos nós.
    Jack, nasceu no dia mais frio do mundo, devido ao tempo que fazia, o seu coração estava gelado e Jack encontrava-se em perigo de vida.
    Madeleine, a parteira e posteriormente sua mãe adoptiva, coloca-lhe no peito um coração “relógio de cucos” que ajudará o coração gelado a funcionar.
    Jack sobrevive e passa a ter dois corações. Assim, o nosso personagem principal cresce sob os olhares preconceituosos dos habitantes da aldeia e dos colegas de escola. Mas a sua mãe adoptiva avisa-o todas as noites, enquanto o embala, que o amor é perigoso para o seu coraçãozinho, pois um desgosto amoroso poderia ser-lhe fatal.
    Contudo e inevitavelmente Jack apaixona-se por miss Acácia, uma cantora pequenina de aspecto frágil.
    Como todas as pessoas apaixonadas que entregam a “chave do seu coração” à pessoa amada, Jack entrega a chave física do seu coração de cucos para que Acácia veja e explore.
    Mas nesta relação nem tudo corre bem, pois Jack omite factos importantes da sua vida passada à sua amada e quando esta descobre, Jack sofre por amor, colocando a sua própria vida em risco para lhe provar o quanto a ama. O coração dói-lhe, mas dói-lhe somente o coração verdadeiro, contudo Jack é incapaz de dissociar os seus dois corações acreditando que depende dos dois para viver.

    Esta pequena/grande história faz-nos reflectir sobre a nossa própria mecânica do coração, porque no fundo todos nós temos uma, muito própria, muito nossa.

    Uma leitura que aconselho numa tarde de frio para aquecer o coração

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  3. Este pequeno livrinho que foi a minha prenda no dia do pai (2010), agradou-me bastante logo ao ler a sinopse.

    Para os amantes do género Tim Burton, faz 100 por cento jus às críticas.

    Poético, negro, mágico, surrealista, inacreditavél. São os adjectivos que encontro para o descrever.

    Curiosamente o protagonista Jack, encontra-se com personagens bem reais tais como Jack O Estripador e Georges Méliès, gostei bastante desta parte foi deveras original.

    Um verdadeiro conto de fadas para adultos, que por vezes nos faz sentir bem crianças. E que nos mostra como o amor pode muitas vezes ser a causa para a desgraça e a loucura.

    Um livro com um final que não é bem o esperado, sem o “foram felizes para sempre” (visto que é legítimo dar a recompensa aos bonzinhos) mas após uma pequena reflexão, acabamos por aceita-lo e acabamos por nos perguntar até que ponto Jack e a sua obcessão pela pequena cantora Acácia, não terá contribuido para o desfecho. Será que tudo aquilo não terá sido a má mecânica do seu coração?

    Um pequeno livro, que se lê num pequeno folêgo. Gostei e recomendo.

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