sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Coração...

Quando Jack deixa Madeleine para trás, envia recados por um pombo correio. Malzieu escreve uma frase muito curta, mas que registo: "Enrolo as minhas palavras na pata da ave". Sorri com esta imagem...

A narrativa tem o poder de encantar. Não é brilhante em alguns sentidos, facilmente detectáveis. Mas é cinematográfica. Deslumbro este personagem na tela de um cinema animado ou mesmo real.

Fiquei com esperanças num final feliz ou, talvez, revoltado pela cantora se ter deixado cair nos braços do grande rival de Jack. O meu desfecho podia ser triste, mas não deixava Miss Acácia com Joe, mesmo que ela, posteriormente, o largue.

Concordo com as críticas feitas às analogias a invenções e factos decorridos bem longe daquela época. Não gostei de helicópteros no século XIX. Creio, porém, que o autor escolheu ser assim. Não percebi foi a sua intenção. Talvez alguém lhe possa perguntar...

'A mecânica do coração' é uma história de sentimentos e emoções fortes. Tem, na verdade, um excelente enredo de personagens. A magia rodeia todas elas, fazendo com que sejam peculiares em vários aspectos. Jack tem um coração com um cuco de madeira, Acácia vê mal, o relojoeiro é louco... Gostei particularmente da originalidade. Não achei que fosse um hino à 'grande' escrita e julgo que há coisas que faria de forma diferente. Mas a liberdade criativa de Malzieu encantou. Vale a leitura e é um justo prémio ao dinheiro gasto com o livro.

Facilmente recomendo este livro pela linguagem acessível. A fórmula desta história é simples, mas bastante emocional. É impossível ficar indiferente às imagens que o autor cria nas suas personagens, nos lugares que percorre. A imaginação é estimulada por analogias e metáforas, decoradas com sentimentos tão puros e próprios a todos os seres humanos. É aqui que o livro ganha um adepto. É aqui que sou conquistado e entendo o facto de ser um conto de fadas para adultos.

Falar do coração é sempre complicado. Descrever o amor, os bons momentos e os maus, a separação; é difícil. Malzieu chega lá com várias setas simbólicas apontadas aos corações dos leitores. E consegue atingir bem no centro. Não está na minha galeria de livros de topo, mas está na galeria dos mais criativos. Peca por ser curto e ter um final mal resolvido.

Este foi o livro escolhido para Julho / Agosto. Agradeço ao Fábio Ventura a escolha e espero ver mais comentários.

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