domingo, 11 de julho de 2010

Uma cana de Pesca para o meu Avô.

O livro foi escolhido em Junho e apresentado no dia 10. O dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Um dia que me leva sempre a uma viagem de 18.000km, e aos encantos de um jardim onde muitos avós de juntavam, com ou sem "cana de pesca", com ou sem netos. Onde a distâcia da minha Ocidental Praia Lusitana se diluia na dimensão da amálgama de gente que se juntava naquele jardim. A ausência de silêncio retirava-lhe o encanto, sempre, nessa alturta. Os avós e os netos permaneciam diliuidos na multidão. Era um momento de intervalo nos ritos de passagem da heterogeneidade. O Oriente. As suas gentes.
Uma Cana De Pesca para o o Meu Avô. O livro. O conto. Uma viagem no tempo. No Tempo sincrónico. No Tempo-Lugar. No Tempo emocional. O Regresso ás Origens no apelo da memória afectiva, no desejo da manutenção da identidade, como se a identidade fosse estanque e permanecesse inerte naquele ponto do mapa onde adormecemos a angústia.

Está aberto o desafio. Um mês depois, 30 dias de calendário, convido-vos a deambularem neste quinto conto, que dá titulo à obra. A descobrir a imagens que se procuram nos cheiros e nas cores de outros tempos, nas ruas inexistentes. A procura do Homem na senda das suas origens, na tentativa de justificar "um" Hoje.

Pergunto, O que tem esta história de tão oriental que nos afaste da identificação com a imagem?

"Quando cresci, percebi que os verdadeiros caçadores não eram tagarelas, se os companheiros do meu avô voltavam sem uma parte da caça era porque passavam o tempo a tagarelar.(...)"

Constança.

5 comentários:

  1. A PESCA É MAIS DO QUE UMA INTERROGAÇÃO!




    Num olhar sereno, fitamos o tempo sempre com a sensação de que não é tempo perdido!
    A intermitência da ponteira da cana é o interruptor entre o curto, ou não, momento de ecstasy e uma, distante, introspecção! Nas peças que vestimos, ostenta-se a barreira da simplicidade em sinonimo de um amuleto que se repete com o carinho e a fidelidade de mais um momento de evasão, somado a outros tantos!
    Cada lançamento tranquiliza a alma, equilibrando na esperança de apanhar algo, uma sensação de liberdade, inquietante com a espera! A fome torna-se numa doce metáfora entre os laços de amizade e um frenesim de canas abandonadas a um desprezo lúdico e embusteado! Num mirar sempre atento, mas desviado, renovamos o cansaço, omitimos o frio e num olhar desconcentrado e intuitivo, reformulamos mais um lançamento! Nas mãos peganhentas tornamos crente o fulgir de uma sardinha que se diferencia, somente, na selectividade de um olhar instintivo!
    As piadas, com direcção premeditada, despertam uma inexistente competição, reforçando assim a ligação contígua, ocultada em curtas distâncias, mas presente no escutar atento do timbre dos, estridentes, guizos!
    A tempo certo, inconscientemente, o secreto cansaço é vencido pela saudade de um outro conforto que nos é inseparável sempre que sentimos o alívio que o mar, em silêncio, se encarrega de manter em sigilo, na parte destinada e íntima que nos segue, que se impõe, que nos vicia, mas que estima-mos…! Uma vez, no nosso outro conforto, alicerce principal do nosso ser, constatamos a veracidade e a fidelidade daquilo que realmente amamos e que prezamos! O frenesim da saudade faz com que largámos, as canas e todos os outros acessórios, ao abandono! Mas com um, cansado e intencional, “ – Amanhã arrumo…!”, justifica-mos uma moleza lúdica, contudo reflexa!
    Se quem nos vê chegar, cede, sempre que o mar o “puxa!”, questiona, “ – Então, o que apanhas-te?”, lançando de seguida um olhar minucioso! Se quem nos vê chegar e que, de certo modo, intimamente, apenas se alivia e se alicia, por tal! Então, no oculto, questionar-se-á eternamente, “ – Porquê…?”
    A simbologia dinâmica, entre a água e o homem e vice-versa, não se explica! Simplesmente, observa-se! Não se discute! Muito menos se analisa! Apenas se cumpre…, somente, por quem nasce com a paixão pela vida e que digna voluntariamente um pacto utópico, mas inevitável!
    Pegando na, correcta, expressão do Filósofo ‘Bertrand Russell’, que diz que: “ Há que ter força para mudar o que pode ser mudado, resignação para aceitar o que não pode ser mudado e sabedoria para distinguir as duas coisas ”, eu desloco-a, tomando este sen- tido: “ Há que ter força para continuar a fazer aquilo que se gosta, resignação para aceitar quando não o podemos fazer e sabedoria para fazer compreender, quem não se convence…!

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  2. Recomendo sériamente as obras da escritora Torey Hayden.

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  3. Aqui fica então o meu comentário sobre o livro de Gao Xingjian

    Este é um livro composto por diversos contos, cuja simplicidade é característica primeira para a beleza que o compõe.
    Personagens distintas desfilam, cujos fragmentos de vida (em alguns dos contos) sendo tão comuns poderiam ser os meus, os seus ou os de outrem.
    A busca incessante de memórias passadas, bastante presente em alguns dos contos também nos assola e transporta para tempos idos. Este regresso ao passado, está muito bem conseguido precisamente no conto que dá o título a esta obra "Uma Cana de Pesca Para O Meu Avô" e que é de entre todos o meu preferido.
    Um livro em que a realidade dos acontecimentos narrados fazem dele um livro especial.

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  4. Este livro é um hino à simplicidade da vida e da escrita, que por vezes teimamos em complicar, talvez porque ainda não aprendemos com os orientais a beleza que há nas coisas simples.
    Embora aparentem uma certa desconexão, estes contos complementam-se entre si: a paz e a felicidade de um quotidiano simples, cortado por um certo determinismo trágico; a beleza de um viver natural contrastando com a fatalidade do devir... tudo acontece porque tem de acontecer...
    O primeiro destes contos do prémio Nobel chinês dá o tom para toda a obra: a alegria simples de um casal modesto, na visita a um tempo abandonado. Tudo simples, singelo, ingénuo. Ausência de sonhos e ilusões mas também de tristeza e lamentos.
    O segundo conto narra a estória de um acidente em que um homem de bicicleta, com uma criança, é atropelado por um autocarro. O ajuntamento caótico de pessoas junto do acidente faz lembrar um formigueiro em torno de um bocado de açúcar. A curiosidade mórbida vai dando lugar a conversas especulativas, a interpretações disparatadas. Toda a catástrofe se transforma numa mera trivialidade e numa ocasião de convívio entre os transeuntes. E persiste a vida monótona de sempre…
    Neste conto evidencia-se um certo determinismo: tudo acontece porque tem de acontecer, tudo é banal e inelutável. Tudo poderia ter sido diferente mas a todas as horas há crianças que morrem. Tudo é banal.
    A normalidade da morte é também abordada no terceiro conto: o nadador não morre por causa de uma cãibra e de mordeduras de medusa mas bem podia ter morrido. Seria normal… talvez por isso ninguém quis ouvir a sua história.
    Nada muda, nada pode ser alterado no conto seguinte: num banco de um parque, ele e ela reencontram-se mas nunca se encontraram; a vida separou-os porque sim. Agora, nada pode mudar porque ninguém muda e ninguém muda ninguém. Observam uma rapariga que chora, noutro banco. Não vale a pena consolá-la. Ninguém consola ninguém: nem elas a ela nem eles a eles próprios.
    O quinto conto, que dá titulo ao livro, é uma obra de arte em termos de criação literária. A nostalgia das recordações de infância, num ambiente bucólico destruído pelo progresso.
    A cana de pesca é o símbolo da tradição, do paraíso perdido; o lamento angustiado de um mundo moderno feito de horários e rotinas; recordações de infância destruídas pelo cimento, pela poluição, pelos homens…
    A linguagem, belíssima, profundamente poética descreve uma infância triste, em torno de um avô que faz lembrar a pureza da água do rio e o encanto das tradições ancestrais. Este tom assume uma beleza extraordinária ao contrastar com a tristeza das palavras usadas para descrever, de forma pungente, o rio que secou, as árvores que mataram, a aldeia que o progresso destruiu.
    O relato da destruição da aldeia é intercalado com um relato de futebol, simbolizando o contraste entre a memória milenar e o presente fugaz, superficial, banal.
    O sexto e último conto assume uma forma peculiar. Não é propriamente um conto, uma vez que não há uma estrutura narrativa linear mas sim um conjunto de imagens descritas, de instantâneos. Perpassa neles a monotonia dos dias, na sua beleza calma mas também nas tristezas e amarguras. O mar está sempre presente, constante e calmo, testemunha fiel dos tempos. A poesia do quotidiano. A nudez de uma mulher paira sobre espíritos e corpos. A água é a vida que escorre sobre os corpos. O céu é a luz inextinguível.

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  5. Olá, li o livro recentemente e escolhi-o para a realização de uma apresentação oral.
    A apresentação tem por base a utilização do livro para fazer uma reflexão sobre um tema. Achei que faria sentido falar na maneira como as pessoas não dão importância àquilo que não as inclui, tal como no segundo conto... queria uma opinião, acha que faz sentido uma reflexão sobre isto? Se sim, ficava muito agradecida com algumas indicações!

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