sexta-feira, 23 de julho de 2010

A originalidade nos livros

Ontem estava a ver o novo filme de Christopher Nolan, o "Inception/A Origem", e no pouco tempo que tive para analisar clinicamente a sua história, só conseguia pensar "Isto é muito original!". Apesar de não estar directamente relacionado com livros (o argumento original foi criado por Nolan), dei por mim a pensar sobre a originalidade em geral e aplicá-la ao mundo literário.

Enquanto autor, tenho uma lista de prioridades que passam pela escrita e estrutura da história. Mas a "rainha" das minhas prioridades será sempre a originalidade do que escrevo. Quando mudo para o papel de leitor, a situação não é diferente. Sou mais facilmente atraído para uma obra que seja bastante original do que uma obra excelentemente escrita, mas com uma forte influência de outros autores ou obras. E quando passado uma semana ainda estou a pensar na história de determinado livro e as suas ideias e construção me maravilham, tenho a certeza que é um bom livro...e original!

O mundo editorial está mais activo que nunca e as novidades literárias de cada mês são mais que muitas, por vezes com um ritmo tão vertiginoso que os leitores mal conseguem acompanhá-las. Por isso, como conseguir identificar uma obra original no meio da maré? Falando do caso específico do género Fantástico, que conheço bem, assistimos a uma explosão de livros de vampiros e proliferação do subgénero "romance paranormal", muito por culpa de Stephenie Meyer. Anteriormente a esta "moda", lembro-me que os fenómenos "Harry Potter" e "Senhor dos Aneis" também provocaram uma multiplicação de histórias semelhantes no mercado.

É certo que há muito boas obras no meio da "moda dos vampiros" ou das "escolas de feitiçaria", por exemplo. Mas por muito viciante que seja a sua leitura, por muito bem escrito que esteja, as influências de outros autores e da tradição literária está sempre presente. Onde pára, então, a originalidade das histórias? Onde está aquela frescura de novas ideias e novos estilos que preenchem o leitor?

Não vejo qualquer inconveniente em receber influências de outros autores ou géneros. Mas penso que essa influência deve ser muito bem medida para ter o mínimo impacto no que escrevemos. A maior riqueza da literatura está em autores que arriscaram e trouxeram originalidade ao meio. Enquanto autor, estarei sempre em busca dessa originalidade como se de um pote de ouro se tratasse. Enquanto leitor, também.

E vocês, o que pensam sobre este assunto?

4 comentários:

  1. Por isso é que apesar de gostar de conhecer novos autores, gosto sempre de voltar a autores como Saramago, Valter Hugo Mãe, José Luís Peixoto, João Negreiros, Gabriel Garcia Marquez, Calvino, Dostoievski, Tolstoi, Camus, Orwell e agora descobri David Soares, Mia Couto, Ondjaki e Pepetela que também se enquadram bem nessa diferença e originalidade que gosto de encontrar nas histórias!

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  2. É curioso o teu tema de estreia. Como se pode ser original num mundo em que saem, só em Portugal, 30 a 40 novidades / re-edições por dia?

    É para mim e sempre foi, bastante complicado definir a fronteira de um estilo literário. O que é o movimento surrealista? Quando acaba o romantismo? Claro, sei de cor alguns autores e consigo perceber porque estão inseridos num determinado estilo.

    No entanto, nos nossos dias, é complicado... Acho que é muito difícil a um escritor não ser influenciado. Mas também é cada vez mais difícil ser original. A grande fórmula dos bestsellers 'que toda a gente lê' continua a ser a 'quase cópia' da receita de escrever romance.

    Comparo, por exemplo, a maneira de escrever de alguns portugueses com aquilo que se vê lá fora. Não dizendo nomes, acho que é perfeitamente identificável, principalmente no estilo corrido, fácil de ler, sem grandes toques de originalidade.

    Eu sou um leitor complicado, porque escolho a dedo o que leio. Gosto que me aconselhem livros, mas sou suspeito. Não compro por impulso qualquer um; informo-me, primeiro, do que trata. Por impulso, só mesmo saldos de livros e, mesmo assim, com critério!

    Eu prezo a originalidade bem escrita. Cada vez gosto menos de autores que foram originais no primeiro livro e depois acabam por repetir-se nos seguintes.

    Mas já li histórias péssimas muito bem escritas. É estranho, talvez prefira a originalidade. Mas também adoro sublinhar uma frase bem escrita. Acho que só não gosto de quem escreve mal! Mas estou bem vacinado, não leio...

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  3. (Resolvi fazer aqui a minha estreia no blog, cuja existência aproveito para saudar, por permitir juntar em tertúlia pessoas com amor pelos livros, ainda que (como no meu caso) sem qualquer formação específica na área da literatura.
    E também já comecei a ler o "A Mecânica do Coração", pelo que espero voltar a participar em breve :D)


    Quanto ao tema deste post, na minha opinião a originalidade é sobrevalorizada.
    Se me perdoarem o exagero, diria que qualquer história que se possa escrever já foi escrita por Shakespeare. É claro que me refiro ao tema. Há muitas maneiras de se "vestir" a história, com vampiros, robôs, formas geométricas ou fantasmas, mas os grandes temas são sempre os mesmos (e se recuei até Shakespeare, talvez pudesse até recuar à tragédia grega).

    As histórias que mais me comovem não são necessariamente aquelas que apresentam a "vestimenta" mais elaborada e fantasiosa, mas aquelas que (muitas vezes da forma mais simples) são tratadas com suprema sensibilidade.
    Sejam quais forem as personagens e o cenário de uma história, ela destina-se sempre a ser lida por pessoas, e é por isso que julgo ser o mais importante a capacidade do escritor em fazer a pessoa que lê rever-se numa personagem, seja ela deste planeta ou não.

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  4. Tiago, bem vindo. Antes de mais, obrigado pelas palavras. É isto que este blogue pretende: ser uma experiência de pessoas que não têm formação em literatura, mas que falam descomplexadamente de livros: sem medo de ser julgados!

    Em Portugal existe muito o culto de se lerem sempre os mesmos jornais, se lerem sempre os mesmos livros, de se citarem sempre as mesmas correntes e opiniões. Nós, por cá, queremos falar de livros e pôr as pessoas a ler. Ler com as nossas opiniões, com as nossas sugestões, com o nosso interesse em divulgar este mundo curioso.

    Toda a tua participação é bem acolhida.

    Devo dizer que gostei da palavra 'sensibilidade'. É, sem ponta de dúvida, bastante diferente de originalidade e de saber escrever. Talvez seja essa a palavra que eu andava à procura e não tenha encontrado. Acho que é mesmo isso, rever-se num personagem. Muito obrigado pela partilha, soltou um nó na minha cabeça!

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