sexta-feira, 7 de maio de 2010

O cão e os caluandas, Pepetela

Uma boa frase para ilustrar o 25 de Abril é de Pepetela: "A sinceridade é o primeiro princípio do marxismo e informar com verdade é fazer a Revolução". Virando radicalmente de assunto, mas mantendo-nos no mesmo livro, retirei esta frase singular: "Quando um casal começa a cansar-se de o ser, tem de aparecer o terceiro elemento, ou para rebentar de vez com a ligação errada, ou para a renovar. Geralmente é um filho ou um amante". O cão e os Caluandas é um livro perfeito. Vários contos acerca de um cão que anda por Angola e que retrata esplendorosamente este país. De Pepetela conheço este e mais um, apesar de ter comprado mais uns quantos (a aguardar leitura). Este é realmente um prazer. Até hoje tinha lido um livro dele que me tinha deixado extremamente desapontado - o terrorista de Berkeley, Califórnia. Mas este redimiu. E de que maneira!

Maria Isabel Matos Pereira, responde a este comentário:

'Rodrigo, esta obra de Pepetela é para mim uma dos melhores que ele escreveu: de facto o livro encerra uma crítica feroz à governação de Angola nos anos oitenta simbolizada [a governação/o poder] pela buganvília [uma planta cujas raizes quando se instalam em qualquer sítio não "largam" a terra e vão fundo "sem olhar a consequências", rebentam com muros, com alicerces de casas, enfim...] É um livro totalmente metafórico e excepcionalmente bem escrito porque premonitório do que acontece hoje no país.
E já agora, permita-me que lhe recomende aquilo que eu considero a leitura sequencial da obra de Pepetela - claro que é uma apreciação pessoal que o Rodrigo pode alterar:"A geração da utopia"[sobre o sonho de uma geração/ões de lutar contra o colonialismo/fascismo e o desencanto dessas mesmas gerações alguns meses após a declaração de independência do país. Alguns dos melhores abandonaram/outros se suicidaram] , "Maiombe" [sobre a luta de libertação nacional], " Yaka", " A gloriosa família" [para mim a obra prima de Pepetela de leitura quase obrigatória de um escritor que ganhou o prémio Camões.]Tendo já lido "O cão e os caluandas"- que eu situaria entre "Maiombe" e "Yaka" - pode ler todo o resto da obra que ele escreveu - algumas coisas muito menos boas - que já não constrói uma imagem decepcionante deste escritor.'

Retiro mais uma frase: Ainda deste livro, anotem: "a verdade é como um diamante, reflecte a luz do sol de mil maneiras, depende da faceta virada para nós"

Maria Isabel volta a publicar: 'A verdade e a justiça são SEMPRE um produto de correlação de forças em presença: o que é verdade e justo para mim pode não o ser para outrém...e como o direito REGULAMENTA relações de produção [no sentido marxista dos termos] a frase do livro ganha uma nova visibilidade/luminosidade.'





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