segunda-feira, 24 de maio de 2010

Diálogo entre Pessoa e Sá Carneiro

Não imaginam a amizade entre Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro? Dou por mim a pensar em alguns despiques... Um dos que imagino é o seguinte:

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

Fernando Pessoa

"Loucura?? Mas afinal o que vem a ser a loucura? Um enigma... Por isso mesmo é que às pessoas enigmáticas, incompreensíveis, se dá o nome de loucos... Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. A maior parte dos Homens adoptou um sistema de convenções: É a gente do juízo... Pelo contrário, um número reduzido de indivíduos vê os objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria... são doidos... Se um dia porém a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse superior e o género de loucura fosse idêntico, eles é que passariam a ser os ajuizados: na terra dos cegos, quem tem olho é rei. Na terra dos doidos, quem tem juízo, é doido, concluo eu..."

Mário de Sá Carneiro

1 comentário:

  1. Rodrigo,
    Parabéns pela tua imaginação! Este despique está muito bem pensado!!!

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